“O conselheiro Péricles Neiva desculpa-se pela sua ausência durante tanto tempo. É que estava em viagem a convite de autoridades portuguesas por Portugal e províncias ultramarinas. E de lá traz impressão de que em matéria de turismo ainda não vencemos a inércia. Estamos tão primários como quando começamos em reuniões aqui neste mesmo salão. Na sua opinião, só há uma solução: a criação do Ministério do Turismo, um órgão capaz de coordenar todos os departamentos estaduais e municipais. Para isto é necessário, porém, que o governo se capacite do que representa o turismo como fonte de divisas em países como Portugal e Espanha, que têm no turismo sua maior fonte de renda.”
O trecho anterior é da ata da reunião do Conselho de Turismo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) no dia 10 de novembro de 1970. Apoiado pelos conselheiros, Neiva defende que a criação de um ministério para cuidar da atividade turística é ponto de partida para uma “verdadeira política de turismo no Brasil”. A demanda, diga-se, é antiga nas reuniões do Conselho. Após viagem por Portugal, Neiva traça um paralelo entre o tratamento dado à atividade turística aqui e no país europeu.
Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla)
A Abla é a representante nacional do setor de aluguel de veículos. Foi criada em 30/03/1977 e hoje tem sede em Brasília e em São Paulo. Mantém profissionais preparados e experientes para prestar diversos serviços às locadoras, estimulando empresas a participarem da vida associativa. A Abla atua para que a locação de veículos se torne significativa na economia, defendendo os direitos e a profissionalização das locadoras. Também proporciona às locadoras acesso a produtos e serviços, assim como cursos de qualificação para quem trabalha no setor.
www.abla.com.br
“Revelou o conselheiro que em Lisboa as obras do seu aeroporto começaram exatamente na mesma ocasião em que começaram aqui as obras do Galeão [Rio de Janeiro]. No entanto, as do aeroporto de Lisboa já terminaram e estão funcionando magnificamente, tudo eletronicamente. O passageiro gasta oito minutos para ser desembaraçado. No Galeão, continuam reformas sobre reformas, o passageiro ainda tropeça em embaraços e demoras com bagagens. (...) O Rio de Janeiro é hoje uma cidade quase às escuras, sem segurança. E numa cidade onde não há iluminação e serviços públicos de segurança não pode haver turismo.”
Conselheiro Péricles Neiva
A despeito das dificuldades recorrentes, o Conselho de Turismo não abaixa a guarda. Na virada da década, seus membros mantêm cobranças ao governo e seguem propondo caminhos para o turismo alçar voo. O depoimento de Neiva repete roteiro comum desde as primeiras reuniões: se o Brasil quiser ser um polo turístico, precisa investir em infraestrutura.
A mensagem fica explícita e embasada em reunião do Conselho em 25 de maio de 1971, com a presença do novo presidente da Embratur, o economista Carlos Alberto de Andrade Pinto. Apesar de recém- mpossado, o dirigente, entre um breve resumo do primeiro quinquênio da empresa e um pedido de paciência aos empresários, faz uma espécie de mea-culpa diante dos membros do Conselho:
“O que tem sido a Embratur até então: curiosamente, uma empresa sem capital. Talvez seja único exemplo de empresa que tenha conseguido sobreviver quase cinco anos sem ter capital, sem recursos financeiros, porque a dotação que lhe fora anteriormente prevista não chegou a ser efetivamente consumada, uma série de problemas vive permanentemente atordoando a diretoria e os responsáveis pela Embratur.”
“A falta de recursos acarreta falta de pessoal. A falta de recursos proíbe que a Embratur tenha condições de operar ao nível de eficiência que seria desejável a uma empresa. A falta de recursos impede que se tenha a Embratur conduzido com eficiência uma política nacional de turismo.”
No mesmo encontro, no entanto, Andrade Pinto traz à mesa as conquistas da Embratur. Sintetiza-as citando a construção de novos hotéis, a despeito da falta de recursos, e agradece aos conselheiros pela incessante busca do desenvolvimento da atividade turística.
A indução do desenvolvimento da rede hoteleira no país, diga-se, era política contínua do Conselho. No início dos anos 1970, seus membros centram forças na busca por investimentos para preencher esse pilar estrutural da atividade turística. Não há turismo sem hotéis e, à época, poucos empresários mostravam disposição para empreender na área. Esse item da atividade turística mostrava-se ainda menos desenvolvido fora do Rio de Janeiro e de Salvador, destinos alicerçados em inegáveis belezas naturais. Atrações com potencial enorme, como as cidades históricas mineiras e as estações de água do Sudeste, desvendadas aos poucos por turistas brasileiros, mantinham-se longe dos olhos estrangeiros. Tesouros como a Amazônia e as praias do Nordeste pareciam outro planeta para as políticas turísticas brasileiras.
Eram necessários estímulos estatais para erguer hotéis. Sob as benesses do chamado milagre econômico, tocado pela ditadura, o governo passa a oferecer financiamentos generosos via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE). Aos militares no poder, o turismo interessa não apenas como atividade econômica fundamental ao desenvolvimento, mas também como maneira de divulgar outra imagem do país, camuflando a censura e a repressão. Sem meias palavras, a propaganda oficial levada adiante pela Embratur explicita como símbolos pátrios o tripé mulher- Carnaval-futebol – Pelé e companhia acabavam de conquistar com pompa e magia o tricampeonato na Copa do Mundo de 1970 no México.
Em 27 outubro de 1971, o governo cria, por meio da Embratur, o Fundo Geral do Turismo (Fungetur), que oferece linhas de crédito e incentivos fiscais para impulsionar a construção de novos hotéis e a vinda de redes internacionais ao Brasil. Segundo dados do IBGE divulgados no jornal Gazeta Mercantil em abril de 1999, entre 1968 e 1981, o número de meios de hospedagem no país aumentou de 12,66 mil estabelecimentos para 17,68 mil. No mesmo período, o total de aposentos subiu 66%: de 211,8 mil para 351,7 mil. No Rio de Janeiro, o número de leitos dobrou. Redes nacionais, como a Othon, expandiram sua atuação e bandeiras internacionais, como Hilton (a primeira em São Paulo), Meridien, Caesar Park, Sheraton e Intercontinental, desembarcaram no Brasil.
Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb)
A entidade associativa fundada em 2002 reúne as mais importantes redes hoteleiras no Brasil. Conta com 20 redes associadas (667 hotéis, totalizando mais de 104 mil quartos) em 201 municípios nas cinco regiões do Brasil. Tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento do setor, representando-o diante do setor público. Suas ações têm sido fundamentais para modernizar os processos, promover conhecimento e estimular a atividade hoteleira.
www.fohb.com.br
Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta)
Desde 2004 a associação atua ativamente na defesa dos interesses de seus associados perante o mercado e os poderes público e privado. Possui associados em 22 estados e no Distrito Federal. Representar, qualificar e promover seus associados são os objetivos maiores da Abeta, que, por meio de ações e parcerias, busca tornar essas empresas mais competitivas e referências mundiais na qualidade da prestação de serviços. Entre as conquistas da associação estão a consolidação do mercado da vida ao ar livre no Brasil e a disseminação da oferta mais segura das atividades de aventura.
www.abeta.tur.br
Enquanto nas cidades a rede hoteleira cresce, o Conselho de Turismo passa a levantar a bandeira do uso dos parques nacionais como forma de alavancar a atividade – à época, o Brasil contava com 14 unidades protegidas com esse status, hoje são 73. Em reunião na sede da rua Candelária, no dia 4 de agosto de 1970, o presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, Newton Carneiro, fala sobre ações predatórias contra o patrimônio natural e, sem deixar de fazer uma forte defesa da demarcação de novos parques para garantir a defesa da natureza, reconhece que é preciso avançar na infraestrutura turística.
“Basta que os conselheiros tenham em conta que a presença ao Parque Nacional do Iguaçu [criado em 1939], no ano passado [1969], foi de mais de 600 mil pessoas. No Parque da Serra dos Órgãos [criado em 1939], em Teresópolis, a visitação foi de mais de 700 mil pessoas. Mais de 100 mil veículos entraram nos portões do Parque Nacional do Iguaçu. Cerca de 300 mil visitantes afluíram para o Parque de Itatiaia [criado em 1937]. Portanto, a afluência de visitantes aos parques nacionais confirma, rigorosamente, que eles suprem uma necessidade indiscutível da atualidade. Agora, para que possam exercer na vida turística brasileira todo aquele poder de atração que devem e podem ter, uma série de medidas básicas precisa ser tomada.”
Outra frente liderada pelo Conselho de Turismo no começo da década de 1970 é a formação de uma mão de obra mais qualificada para trabalhar na atividade turística. O trabalho desencadearia o desenvolvimento do primeiro curso superior de turismo, já em 1971. Muito antes disso, no entanto, a Confederação Nacional do Comércio, por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), entidade criada em 1946, já promovia cursos técnicos que abasteciam as empresas com profissionais da área.
Em 1951, por exemplo, o Senac São Paulo havia lançado o primeiro curso de especialização para garçons, que incluía aulas de conversação em português, francês e inglês. Seis anos mais tarde, surgiram os primeiros cursos de treinamento e habilitação profissional para profissionais de hotelaria, ministrados pelo professor Eugênio Svab nas escolas Senac em Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Em 1960, o Hotel Senac Grogotó, em Barbacena (MG), transformou-se no primeiro hotel-escola da América Latina. O Senac também assumiria a gestão do histórico Grande Hotel São Pedro, no interior de São Paulo, em 1968, transformando-o em um hotel-escola.
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac)
Criado em 10 de janeiro de 1946, o Senac nasce do compromisso dos empresários do comércio de bens, serviços e turismo de financiar uma educação profissional de qualidade para garantir aos trabalhadores do setor não apenas empregabilidade, mas inserção produtiva e cidadania. Ao longo de sua história, a instituição preparou mais de 71,3 milhões de profissionais e é a principal formadora de profissionais para as atividades vinculadas à cadeia produtiva do turismo.
www.dn.senac.br e www.senac.com.br
O ensino do turismo dá um salto importante em 1971, quando, sempre com a indução do Conselho, ganha um curso superior. O pioneirismo coube à Faculdade Morumbi, atual Universidade Anhembi-Morumbi, em São Paulo. Cerca de 400 candidatos, a maioria mulheres, disputam as 240 vagas disponíveis. Ao abrir a reunião do Conselho no dia 30 de janeiro de 1973, o presidente Pedro Affonso Mibielli de Carvalho anuncia a presença de Gabriel Mário Rodrigues, diretor da Faculdade Morumbi, ressalta a participação do Conselho no processo de desenvolvimento do ensino de turismo para formação de técnicos de nível universitário e diz que o empresariado deve ajudar na elaboração das disciplinas. “[O ensino superior] representa significativa colaboração para com o empresariado, cujas necessidades no setor estão sendo investigadas para planejamento do currículo”.
Quando convidado a tomar a palavra, Rodrigues discorre sobre o tema para justificar a criação do curso superior.
“Turismo é uma atividade específica, fator de desenvolvimento nacional, porque contribui com a entrada de divisas e propicia trabalho a milhões de pessoas. Transformou-se nestes 20 últimos anos de uma atividade secundária, que compreendia um número pequeno de pessoas, que eram produtores ou consumidores, em uma verdadeira indústria, que tem grande efeito na balança de pagamentos, sobre o desenvolvimento regional, na hospedagem, nos investimentos, nos equipamentos locais, contribuindo na melhoria dos transportes e no aumento do nível de vida.”
“O turismo exige uma planificação de locais, ordenação de ideias, medidas de proteção à natureza, do solo urbano, bem como formação de dirigentes e pessoal para orientar e trabalhar nos diversos setores da empresa e dos organismos públicos e privados. As necessidades desta indústria exigem técnicas apropriadas, que não permitem utilização simplesmente de métodos que foram eficazes em outras indústrias, na esperança de que aconteça o mesmo no turismo.”
Gabriel Mário Rodrigues, diretor da Faculdade Morumbi
Rodrigues, diretor da Faculdade Morumbi, fala ainda sobre a importância das férias e traz um embasamento para a previsão de crescimento do turismo no mundo para as três décadas seguintes, feita por órgãos mundiais especializados.
“É fácil prever a intensificação do movimento turístico à medida que as rendas superem o nível crítico abaixo do qual os meios disponíveis destinam-se à satisfação das exigências primárias de consumo, como alimentação, vestuário e habitação. (...) Já as férias, atualmente, são consideradas uma necessidade social, tendendo a promover uma reserva possível que compense a tensão existente nas sociedades industriais e a deterioração psíquica e mental produzida pelo trabalho.”
“(...) No conjunto, as despesas turísticas devem elevar-se a 63 bilhões de dólares em 1970; 83, em 1975; 109, em 1980 e, 143, em 1985. (...) No ano 2000, com a taxa média anual de 10% de investimento, nós teremos cerca de 3,5 bilhões de pessoas em movimentação pelos caminhos do mundo efetuando gastos que se aproximarão dos 400 bilhões de dólares.”
Depois do exemplo da Faculdade Morumbi, outras escolas lançaram cursos superiores de turismo. Em 1972, a Universidade de São Paulo (USP), a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-S) e a Universidade Católica de Petrópolis colocaram a graduação em sua lista. No ano seguinte, foi a vez da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que teve apoio direto do Conselho de Turismo, como mostra matéria do Jornal do Brasil.
Associação Latino-Americana de Gestão de Viagens e Eventos Corporativos (Alagev)
Fundada em 2003, a Alagev é uma Associação sem fins lucrativos que atua no segmento de Viagens e Eventos Corporativos, posicionando-se como um hub de integração focado na evolução da indústria por meio da cooperação entre todos os players e da especialização em geração de conteúdo qualificado. É a única associação multissetorial do segmento, tendo como associados os clientes finais e os respectivos fornecedores da indústria. O propósito da Alagev é conectar o mercado de eventos a viagens corporativas na América Latina, desenvolvendo e defendendo os seus interesses, com o objetivo futuro de liderar e acelerar o desenvolvimento desse mercado. Representa e apoia os interesses de todos os players da indústria por meio da união com associações e entidades congêneres, ou promovendo discussões para a pronta resolução de todas as questões éticas e profissionais da indústria.
www.alagev.org
Mostrando diversidade em suas ações e um olhar ambiental sobre a atividade turística, em 31 de julho de 1973, o Conselho de Turismo propôs o tombamento de três ícones da cidade do Rio de Janeiro: a Baía de Guanabara, a Lagoa Rodrigo de Freitas e o Morro Dona Marta. Meses antes, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico havia tombado o Pão de Açúcar e os Morros da Urca e da Babilônia. Disse o conselheiro Almir de Sousa Martins em reunião naquele dia:
“Temos que preservar a beleza natural da cidade, protegendo o interesse ecológico e fugindo à especulação imobiliária. As sugestões de aterros e da construção de um centro de modas na lagoa são simples pretextos para lançar aquela parte da Guanabara numa concorrência comercial desleal. São ideias de engenheiros e urbanistas que não têm visão global da cidade.”
Conselheiro Almir de Souza Martins
O incremento sem precedentes do turismo no Brasil na primeira metade da década de 1970 traz a reboque problemas no tráfego aéreo. Para debater o assunto, o Conselho de Turismo convida para sua reunião do dia 22 de maio de 1974 o brigadeiro Waldir Vasconcelos, chefe do subdepartamento de planejamento do Departamento de Aviação Civil (DAC). Em encontros anteriores, chegou-se a cogitar entre os conselheiros o encaminhamento de um ofício ao ministro da aeronáutica solicitando “providências enérgicas e imediatas” junto às empresas aéreas para melhoria do atendimento aos passageiros da Ponte Aérea. Diz a ata da reunião:
“Observa-se grandes atrasos nos horários, frequentes cancelamentos, troca de equipamentos sem prévio conhecimento dos passageiros, voos lotados em número reduzido e manutenção precária de aeronaves.”
Em nome do governo, o brigadeiro Vasconcelos toma a palavra e explica que o aumento do movimento de turistas pelo espaço aéreo brasileiro tem causado problemas dessa natureza não apenas na Ponte Aérea, mas pondera que no trecho Rio-São Paulo a situação se agrava pelo fato de o aeroporto Santos Dumont receber apenas aviões turboélice.
“Temos o Electra, com 89 lugares, o Wiscount, com 71, e o Avro, com 44. De tal maneira que, quando ocorre uma substituição do equipamento, nem sempre o substituto tem a mesma capacidade do avião defeituoso.”
O brigadeiro acredita que a situação estará solucionada até o fim de 1974, quando apenas o Electra passará a operar na Ponte Aérea. Outro problema que aflige os passageiros da linha, esse levantado pelo próprio brigadeiro, é o embarque no aeroporto de Congonhas. Inaugurado em 1930, o aeroporto paulistano começa a ficar pequeno.
“Está super congestionado, como sabem todos. Os passageiros da Ponte Aérea são muitas vezes atendidos ao relento. Então, o Excelentíssimo Senhor Ministro da Aeronáutica já autorizou despesas de grande vulto para ser edificada uma sala de pré-embarque, com grande capacidade e destinada exclusivamente aos passageiros da Ponte Aérea Rio-São Paulo.”
Brigadeiro Waldir Vasconcelos, chefe do subdepartamento de planejamento do DAC
Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear)
Criada em agosto de 2012, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) tem a missão de estimular o hábito de voar no Brasil. Suas estratégias de atuação compreendem planejar, implementar e apoiar ações e programas que promovam o crescimento da aviação civil no país de forma consistente e sustentável, seja no transporte de passageiros, seja no transporte de cargas. Atualmente, a Abear tem entre as suas associadas a Gol, a Latam Brasil e a Voepass/Map, representando cerca de 80% do mercado brasileiro de aviação doméstica.
www.abear.com.br
Ainda em 1974, o Conselho de Turismo inicia com mais veemência sua defesa do turismo ferroviário. Porta-voz da ideia, o conselheiro Belfort de Oliveira afirma, em reunião do dia 5 de fevereiro, que o então ministro dos transportes, Mario Andreazza (1918-1988), havia se manifestado favorável à utilização das ferrovias para a atividade turística. Oliveira lembrase que, quando Washington Luís (1869- 1957) era governador de São Paulo, de 1920 a 1924, sua célebre frase – “governar é abrir estradas” – incluía as estradas de ferro.
“Alguns trechos são bem convidativos, por exemplo, Curitiba-Paranaguá. Mas viajar em ferrovia pelo interior de Mato Grosso e mesmo daqui para o Rio Grande do Sul é sacrifício que nenhum turista quererá se aventurar, porque as estradas de ferro não oferecem nenhum conforto. Apenas entre Rio e São Paulo e no interior paulista, a Mogiana e a Paulista, com algumas composições, oferecem um mínimo de conforto. Em outras não: o desconforto é total.”
Espírito Santo | Trem das Montanhas Capixabas |
Minas Gerais | Maria-Fumaça de Rio Acima Trem da Serra da Mantiqueira Trem das Águas |
Paraná | Trem da Serra do Mar Paranaense Trem de União da Vitória |
Pernambuco | Trem do Forró |
Rio de Janeiro | Trem do Corcovado |
Rio Grande do Norte | Trem dos Engenhos |
Rio Grande do Sul | Trem do Vinho Trem do Vale do Taquari |
Santa Catarina | Estrada de Ferro Santa Catarina Trem da Serra do Mar Trem das Termas |
São Paulo | Trem Caipira Trem Cultural dos Imigrantes Trem Cultural dos Ingleses Trem da Moita Bonita Trem de Guararema Maria-Fumaça Campinas Jaguariúna |
Um plano detalhado para vitaminar o turismo ferroviário é redigido pelo Conselho, entregue ao Ministério dos Transportes e apresentado durante o 2º Congresso Brasileiro de Agências de Viagem, em outubro de 1974. Entre os pontos essenciais do plano, está o planejamento efetivo do turismo ferroviário mediante adequação dos vagões e dos horários. O Conselho propõe ainda a promoção das viagens ferroviárias nos meios de comunicação, a implantação nas estações de um perfeito serviço informativo, a criação de um bilhete único para permitir escalas, a articulação permanente com as agências de viagem para mantê-las rigorosamente informadas e, finalmente, a elaboração de uma estratégia rodoferroviária.
Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais (Abottc)
Fundada em 2000 e sediada no Rio de Janeiro, representa os interesses das operadoras de trens turístico-culturais em âmbito nacional e internacional. Com 18 trens associados, busca promover o crescimento e o desenvolvimento do setor, bem como incrementar a atividade turística nacional por meio do estímulo do uso dos trens em operação. Suas ações consistem em divulgar e promover o turismo ferroviário no Brasil e exterior, zelando pela preservação do patrimônio e incentivando a revitalização ferroviária.
www.abottc.com.br
Meses depois, o Conselho de Turismo, por meio de seu presidente, Corintho de Arruda Falcão, propõe, durante o 17º Congresso da Confederação das Organizações Turísticas da América Latina (Cotal), em Buenos Aires, na Argentina, uma resolução para facilitar a vida do viajante aéreo e promover a integração continental. Conforme matéria no Jornal do Brasil, de 9 de maio de 1974, os turistas que viajassem pela região poderiam percorrer vários países com um único bilhete, válido para qualquer companhia aérea e com abatimento de 25 a 50%. A resolução é aprovada por unanimidade.
Fato importante para a atividade turística acontece em 1º de novembro do mesmo ano, quando a Organização Mundial do Turismo (OMT), criada em 1925, é transformada em um órgão intergovernamental. Com a mudança, ficam mais evidentes as diretrizes da organização: fazer do turismo um mecanismo de crescimento econômico, desenvolvimento inclusivo e sustentabilidade ambiental. No Brasil, o tema também ganha relevância com a aprovação, pela primeira vez, de duas leis para regulamentar os serviços turísticos, ambas em dezembro de 1977. A Lei 6.505 regula as atividades do setor e estabelece normas de fiscalização e padrões de qualidade. Já a 6.513, aprovada como resposta aos compromissos firmados na Convenção do Patrimônio Mundial da Unesco (também conhecida como Recomendação de Paris), em novembro de 1972, traz critérios para a conservação dos patrimônios natural e cultural do país.
Em outubro de 1975, após muita luta do governo e dos empresários da atividade turística, o Brasil abre as portas para a 45ª edição do congresso da Asta, a Associação Americana de Agentes de Viagem. A candidatura do Rio de Janeiro superou cidades muito mais habituadas ao turismo na época: Berlim, Paris, Hong Kong e Tel Aviv. Segundo o jornal Opinião, o evento, que serviria para a Asta avaliar “se nossa casa está à altura de receber seus clientes”, receberia 3.500 inscritos e custaria 8 milhões de dólares, sendo 37% desse valor empenhado pelo governo federal, 12% pela prefeitura do Rio de Janeiro e o restante dividido entre governos estaduais e a iniciativa privada.
“Os esforços do Brasil, louváveis em qualquer concurso de hospitalidade, não param por aí. Nós seremos o primeiro país a reembolsar os 25% restantes do preço da passagem a cada representante oficial das agências de viagens inscritas no congresso (que já gozam normalmente do desconto dos 75% restantes). Para justificar tamanha caridade, os organizadores explicam que, em troca do reembolso, os travel agents assumem a obrigação de sair dos Estados Unidos para entrar diretamente no Brasil através da América Latina. Assim, não farão volta ao mundo no trajeto para cá e não terão chance de fazer negócios com outros países.”
“E a casa? Para quem a tem sempre arrumada, não há com que se preocupar. Mas no Rio, a desarrumação é tanta que milhões de cruzeiros desembolsados pela prefeitura chegaram apenas para restaurar e enfeitar salas de visita (praças, estação do bondinho do Corcovado, Cristo Redentor) e pagar 40 mil a cada uma das dez escolas de samba que desfilarão para os visitantes.”
“O objetivo do congresso é simples: vender o Brasil a partir de uma política agressiva de oferecimento do produto. Atrair turistas estrangeiros. Para isso não podemos perder tempo. Devemos aproveitar até mesmo a hora do cafezinho e assim poderemos equilibrar o déficit anual de 500 milhões de dólares da conta do turismo.”
Jornal Opinião, de 24 de outubro de 1975
Em reunião do Conselho no dia 7 de outubro, o palestrante convidado, Marcel Hasslocher, secretário de Estado de Indústria, Comércio e Turismo, faz uma ponderação sobre a importância do evento.
“Há um grupo que acha que a Asta será uma panaceia para todos os males do turismo brasileiro. Outro grupo entende que não vale nada. Mas são milhares de agentes que devemos ter em vista. Nós nos colocamos no centro dessas duas hostes inimigas. Na realidade, o congresso é importante para o estado do Rio. Não vai solucionar problemas turísticos, a falta de roteiros integrados, as dificuldades de propaganda externa, problemas de transportes e de hotéis, mas vai trazer um conhecimento melhor da realidade brasileira e do Estado para os agentes de viagem que passarão a conhecer de perto o que é o Brasil.”
Marcel Hasslocher, secretário de Estado da Indústria, Comércio e Turismo
Além do florescimento das agências de viagem e dos primórdios da preocupação ambiental, o fim da década de 1970 traz também um olhar social para a atividade turística. O Serviço Social do Comércio (Sesc), entidade ligada à Confederação Nacional do Comércio e já nessa época amparada pelo Conselho, desenvolvia atividades de turismo social desde 1948, com a inauguração da Colônia de Férias Ruy Fonseca, atual Centro de Férias Sesc Bertioga, no litoral norte de São Paulo. Em 1978 e 1979, no entanto, devido à necessidade de ampliação da oferta e da diversificação das atividades, seu corpo técnico elabora um programa de viagens e excursões baseado conceitualmente na definição de turismo social e nos princípios da Carta de Viena, adotada em 1972 pelo Bureau Internacional de Turismo Social (BITS).
Serviço Social do Comércio (Sesc)
Fundado em 1946, o Sesc surgiu do compromisso de empresários em proporcionar melhores condições de vida aos trabalhadores, suas famílias e a população em geral. Tem no turismo social uma de suas estratégias prioritárias de atuação – possui 38 meios de hospedagem e uma programação de passeios e excursões por todo o país. Fomenta o turismo como fator de desenvolvimento, com base nos princípios da acessibilidade e solidariedade. Suas ações buscam valorizar o ser humano, sua cultura e meio ambiente, a partir de experiências em um novo espaço geográfico cultural, no qual sua clientela se sinta livre dos condicionamentos do seu cotidiano.
www.sesc.com.br